sábado, 28 de dezembro de 2013

Poesia


Esta poesia eu escrevi quando eu tinha 13 anos.
Hoje, reorganizando meu quarto e meus armários, em prol da leveza que usualmente busco para esperar o ano novo, encontrei este meu antigo poema da adolescência.
Não me lembro ao certo, mas, pelo teor do texto, creio que, na ocasião em que o redigi, eu estava com um coração em cada pupila. rs
Cheguei a declamá-lo no festival de poesias da escola. Mas, eram outros tempos e não havia blogs.
Finalmente, aqui o publico e, com prazer, compartilho com os leitores:


Brisa da Paixão
Brisa que não mais toca
de leve minha pele.
Brisa que agora penetra
por minhas entranhas,
invade meu íntimo,
assanha meu ego,
arrepia a espinha.
Não mais brisa.
Agora, devastador, violento vento.
Furacão revira meus sentimentos,
confunde meus lamentos,
renova minha visão,
desliga-me da ilusão
e da prescindível razão.
Refaz-me, reconstrói-me,
leva-me o desânimo.
Forte vento que me
remexe por dentro,
mas que desfaz a confusão
quando percebo que sou um vulcão
derramando lavas de paixão.
Autora: Gizele Toledo de Oliveira (texto registrado/direitos autorais reservados).

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Facebookólatras Anônimas



Depois de 1 mês sem Facebook, estou de volta! Fiz uma imersão socioantropológica na vida dos “sem face”. E confirmei o que já desconfiava: quem não tem “face” é visto como um ser estranho, praticamente um E.T. Se você tinha e o excluiu, pior ainda: atitude extremamente suspeita.

Os primeiros dias são decepcionantes. Você recebe muitas curtidas e acha que sua página do “face” está abafando. Se você sair, vão sentir sua falta. Você sai e... Silêeeencio. Nem uma reclamadinha. Sai um, entram oito, baby. Ninguém nota. I´m sorry. Além da crise de abstinência você ainda tem que lidar com a baixa popularidade. É uma fase nebulosa.

Passa um tempinho e o negócio vai ficando mais animado. Algumas pessoas começam a lhe escrever, por e-mail ou Whats App (pois é impossível excluir-se completamente do ciberespaço), e começam a perguntar o porquê de você ter saído do Facebook. Afirmam que sentem sua falta. Sentem falta dos seus posts, claro, porque você ainda não se desintegrou e poderá ser encontrada em casa, no trabalho, na academia... É bom que se saiba. Vão-se os teclados digitais, mas ficam os dedos. Sim, vocês ainda podem combinar um barzinho para papearem ao vivo, sem essa mania de vida virtual sob as cobertas e digitações ultrarrápidas, com frases de suaves a secas, de doces a apimentadas. Largue o celular, vá desfrutar de um bom vinho vivendo um romance ou tomar uma cerveja bem gelada com os amigos. Em caso de solidão, abra um chocolate. Nada como chocolates de verdade, daqueles dos quais ainda não existem versões para iPad.

E a vida real é suficientemente realista? Acho que não. Começou a segunda fase da minha ausência facebookeana. Tiveram início as perguntas mais bizarras: – Por que você saiu do “face”? – Está fugindo de algum louco? – Está escondendo alguma coisa? E, para as mentes mais maldosas e imaginativas: – Está vivendo vida dupla? Tripla? – Estava viciada? Opa! Esta última pergunta procede: vício. O ser-humano é um ser social. E, como tal, tem essa necessidade constante de interagir, conversar, ver, ser visto, analisar, comentar e, nos últimos anos, curtir. Porque, antes da era Facebook, curtíamos, mas não falávamos sobre isso com tanta naturalidade. Uma palavrinha tão fora de moda que causou estranheza aos primeiros usuários do site de relacionamentos. Hoje é difícil imaginar nosso vocabulário sem essa gíria tão trivial.

E diante de tantas perguntas, você percebe que as pessoas começam a olhar pra você como uma alienígena. – Fulana não tem “face”. – Fulana excluiu o “face”. Você vira assunto da roda e lhe incentivam a retornar: – Fulana, volte pro face. E lhe dão conselhos: – Isso é uma postura radical, não faz bem. – Olhe, isso vai lhe fazer mal. “Face” é o remedinho dos nossos tempos. Parar de usar o “face” parece ter se tornado tão bizarro, antiquado, sem sentido quanto teria sido excluir sua linha de telefone fixo nos anos 80. Já imaginou? Todos os seus amigos perderiam um ponto crucial do contato com você. E teriam que voltar a lhe escrever cartas. Ah, as cartas... Onde foi que se perderam? Felizes daqueles que ainda se permitem dar umas rabiscadas. Sem querer ser nostálgica, mas já sendo, assusta-me estar informada de que nos próximos anos a escrita à mão cairá em desuso. Mas isso não vem ao caso. Voltemos às letras digitais...

Perguntas esclarecidas, amigas compreensivas... Segue a terceira fase da vida fora do “face”. É quando você começa a ouvir conversas daqui e dali e se dá conta de que perdeu alguma coisa. Você começa a pegar o bonde andando, porque não está sabendo das últimas notícias da vida alheia. Fulana engravidou, Beltrano se separou, Sicrano se formou, V foi à China, W largou o trabalho, X fez as unhas, Y dormiu mal essa noite, Z foi ao banheiro. De alguns passos da vida prosaica, você se poupa. De algumas novidades você foi a última a saber, mas ainda assim ficou sabendo. Outras se perderam para todo o sempre. Que diferença faz? Para algumas notícias tolas, bobas, banais você deixou de perder o seu precioso tempo, justamente porque não as leu. No entanto, alguém logo fez questão de repassar-lhe as informações. Já o adágio de que notícia ruim chega rápido é verdadeiro. Chega depressa mesmo. Mas não tão rápido quando se está desconectado. Os “fora do face” estão mesmo um passo atrás, à margem da acelerada troca de informações da contemporaneidade. Esse fluxo incessante é bom, mas às vezes cansa.

Tempo. Quarta fase do mundo off-line. Saí do “face” e ganhei mais tempo. Tempo pra mim, tempo pra família, pra estudar, pra ler livros (daqueles com folhas de verdade, sabe?), pra ganhar mais beijos e abraços dos sobrinhos, tempo até para não fazer nada. Há quanto tempo que você, ao se ver sem fazer nada, pega logo o celular? Hoje o ócio lembra tédio, então, teclamos. Tenho sérias desconfianças de que a privação do ócio absoluto pode causar algum dano cerebral. Desde a pré-história, passando por Arquimedes e seu grito de eureka, sempre teve sua importância o ócio criativo. E esse momento de vazio da mente não se dá com o retângulo na mão... Nem no bolso, o que já gera uma expectativa implícita de alguma vibração que virá do além.

Comecei a reparar nas pessoas aquilo que antes os outros reparavam em mim: estamos vidrados no aparelho. Estamos todos loucos ou agora é normal conversar enquanto se tecla? Falar com alguém sem mirar o rosto, sem olhar nos olhos. A atenção agora é relativa. É certo dar “atenção” a um amigo enquanto se joga Candy Crush? Sua resposta certamente será de que isso agora é normal. É... Perdemos um tanto de humanidade. Estamos nos tornando andróides e nem nos damos conta. Como bem queria Steve Jobs, o iPhone se tornou uma extensão do nosso corpo. E, ó Deus, como precisamos dele! É aí que entra a quinta fase.

Nessa penúltima fase, você começa se enganar. Você não tem “face”, mas de repente aparecem na sua telinha dezenas de aplicativos divertidos, os quais você não tinha até então. Você não sentia falta de tê-los, porque o “face” já lhe ocupava o bastante. Os diversos apps não surgiram do nada no seu aparelho. Não disfarce. Foi você mesma que os baixou com seus dedinhos incontroláveis enquanto resistia à sua vontade de retornar às atividades da vidinha virtual. Você não cede à tentação, mas surgem muitas idéias publicáveis em sua mente: frases que nunca serão noticiadas; pensamentos furtivos que deveriam ser gravados para sempre na então saudosa “linha do tempo”; fotos não divulgadas; imagens de uma vida real e privada, sem compartilhamentos. Agora nada é “curtido” por quem está fora do seu quadrado. Nada mais é visto por terceiros. Tudo agora é mais fechado no seu universo particular. Você, finalmente, tem uma vida íntima, reservada. Fazem parte dela as pessoas mais queridas, as mais próximas. Foram-se os fãs, os seguidores, mas, com eles, os fofoqueiros de plantão. E agora você tem mais foco, mais tempo, mais vida real e menos carinhas brilhantes e sorridentes na tela fria. Volta a escutar o choro do amigo sem um emoticon triste correspondente, presta atenção ao lamuriar do vizinho no elevador...

O mundo ao redor parece agora mais nítido. Sabe aquelas pessoas que antes falavam enquanto você teclava? Seu pai, sua mãe, seu marido, seu filho... Suas vozes ficam mais encorpadas, ganham maior clareza. Crescem em perceptibilidade e importância. Não dividem mais a sua atenção com a tecnologia na palma da mão. Nos dias de hoje as “redes” sociais saem carregando tudo o que lhes passa na frente. Como numa pescaria em alto mar, somos cardumes capturados. Escapar não é uma opção. Sim, estamos entranhados na cultura pós-facebookeana. Mergulhar no vazio é: entrar na rede ou sair dela? Já não sabemos mais. Sem rumo. Estamos afogados nesse mar de imagens e palavras falsas ou reais e não compreendemos ainda muito bem o significado disso tudo. Um dia, quando o presente virar passado, com um certo distanciamento talvez, poderemos avaliar melhor os avatares que nos tornamos. Meio gente, meio máquina. Meio real, meio imagem do real. Meio verdadeiro, meio falso.

Eis que, na última fase, você compreende que valeu a pena se ausentar para pensar um pouco nisso tudo e revisitar a vida que você tinha antes dessa revolução sociotecnológica acontecer. Mas você descobre que não pode se afastar por muito tempo. Que os outros estranhem seu sumiço, ok. Mas o caso é que você mesma também estranha ficar por fora de tanto assunto borbulhante em tempo real. Não há razão, não há por que se manter à margem da sociedade virtualizada. Precisamos lidar com ela, já que ela existe, quer positiva ou negativa. E você faz parte dela tanto quanto ela faz parte de você. No seu dia-a-dia, quantos momentos quererá compartilhar? Depois de respirar um tempo fora desse oceano, uma coisa é certa: você toma fôlego e volta querendo compartilhar um pouco menos. Você retorna confirmando o que você sabia desde o começo: nada exagerado faz muito bem. Então, Facebook em mãos, mas, desta vez, sem vícios. Só por hoje.

Autora: Gizele Toledo de Oliveira (texto registrado/direitos autorais reservados).

Continue com Mania de Ser Feliz... Conheça outros posts deste blog:
Fantástica Cidade Maravilhosa
Crônica de um salto alto
Tudo planejado

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Reformulando a frase do cachorro:


Quanto mais conheço a humanidade, mais eu gosto do meu iPhone.


Autora: Gizele Toledo de Oliveira (texto registrado/direitos autorais reservados).


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Reflexões de fim de tarde...



        Quando eu tento levar a vida muito a sério, a minha criança interior me faz cócegas... 
        Impressionante o quanto mudei nos últimos cinco anos. Ficou para trás a menina ingênua, pura, romântica, medrosa, sonhadora e que via o mundo cor-de-rosa. E quer saber? Não sinto saudade dela. Vieram os aprendizados... Hoje muitas pessoas não me reconheceriam. Claro que minha essência não me abandona, mas me tornei mais prática, consciente, em constante busca do desenvolvimento interior.
        Passei a cuidar mais de mim. Aprendi a perdoar a mim mesma por ser imperfeita, o que acabou me levando a perdoar os outros também, por consequência. Entendi que o momento presente é sempre o mais importante da minha vida. Aprendi a não carregar o passado, aliviando o peso da bagagem ao descartar o que não serve pelo caminho.  Aprendi a não me preocupar com o futuro e a fazer planos realistas para o dia de hoje, o qual me basta.
        Tornei-me mais intensa no prazer, mais leve no sofrimento e mais firme em minhas escolhas. Subi os primeiros degraus de uma evolução que espero que dure toda a minha existência. Não tenho pressa ou pretensão de chegar ao topo. Só quero estar atenta e sentir cada passo, degrau por degrau. O que importa é que não perdi o brilho dos olhos... O amor pela vida me transborda.

 Autora: Gizele Toledo de Oliveira (texto registrado/direitos autorais reservados).

terça-feira, 23 de julho de 2013

O ipê e a casa



           Às vezes eu passava por uma rua onde havia uma casa bucólica com uma bela árvore na frente, que me chamava atenção pela delicadeza de suas flores cor-de-rosa. Eu chegava a respirar fundo e podia jurar sentir o aroma daquelas pétalas e experimentar a energia daquela relação entre a árvore e a casa.

           O texto abaixo escrevi quando um dia passei pelo local e, surpresa, vi que a casa havia sido demolida, para a construção de mais um prédio de muitos andares, como tem sido comum nas redondezas, pelo avançar da especulação imobiliária.

            Fiquei, em parte, feliz, ao constatar que, por algum motivo, decidiram deixar a árvore de pé. Fiquei feliz e melancólica ao mesmo tempo, pois, embora ela tivesse sido preservada, pude imaginar a tristeza daquela árvore ao testemunhar a destruição de sua companheira de longa data. Aquela velha companheira, de ar ingênuo, ficou no passado. Restou a pobrezinha ali, sozinha, no terreno vazio, já fechado por tapumes da futura obra. Percebi-a tão desolada. Será que o novo prédio lhe traria algum conforto? Então, escrevi:

            E o ipê ficou lá, guardando as memórias da casa que o namorava... Só espero que conservem de pé este lindo ipê que parece defender, solitário, o nome do bairro "Jardim Icaraí".  No inverno, suas flores ainda resistem. Na primavera, ele é um luxo, uma explosão de flores! Ou era... Não sei como vai ser agora, que sua amada, a casa, se foi. E não se pode afirmar que tenha partido desta para melhor... Se alguém souber para aonde vão as almas das casas quando morrem, favor informar. Que Deus a tenha!

Autora: Gizele Toledo de Oliveira (texto registrado/direitos autorais reservados).

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Sobre nascer todos os dias...


Este texto escrevi em setembro de 2012, por ocasião do show da Marisa Monte. Hoje quero compartilhar com vocês... Lá vai:


Hoje é dia de show da Marisa Monte.
E o que a felicidade tem a ver com isso? Tudo.

“E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...”
Alberto Caeiro

Meu pai me perguntou: - Como que um simples show, uma coisa tão corriqueira, pode te deixar tão empolgada?
Minha resposta imediata: - Porque vivo a vida intensamente. Nada para mim é banal.

E como ele teve interesse em ouvir, continuei: - A cama quentinha, a água morna do chuveiro, a comida saborosa, o mergulho no mar, o amanhecer, a lua cheia, o ipê daqui da nossa rua quando floresce, o passarinho que pousa nas grades da nossa janela... Tudo, a cada nova vez, é vivido como se fosse uma nova experiência, porque, se de fato fosse, seria, então, apreciado.  Triste é perder essa capacidade de aproveitar momentos bons e simples, e passar por eles sem nada sentir, como se fossem só etapas rotineiras de uma vida ordinária. Para quem passa a prestar atenção nos mínimos prazeres, certos acontecimentos cotidianos passam de banais a sensacionais. E a diferença entre viver de um modo ou de outro é tão somente o ponto de vista.

Dormi bem essa noite. Em algum lugar da mente, durante os sonhos, devo ter encontrado algumas respostas mais. Porque acordei com vontade súbita de escrever este texto e, quem sabe, compartilhar um pouco estas ideias que há muito me acompanham. Não raro alguém me pergunta:  - Seu olhar está brilhando, seu rosto radiante... está apaixonada? Está feliz? Minha resposta: - Sou uma eterna apaixonada pela vida e, eventualmente, por outrem ou por mim. Por que não? Às vezes, porém, terá sido apenas uma TPM que se findou, conferindo novo rubor à face e alívio ao espírito. Oh, mulher! Um ser movido a hormônios. Não se pode deixá-los fora da história sob o risco de torná-la incompleta.

Vivendo cada vão momento da vida como se único fosse, é mais fácil se permitir a felicidade. Os sentimentos de paz, plenitude, abastança inundam a alma e fica difícil encontrar-se triste. Mas, para se viver com verdade, os sentimentos precisam ser genuínos... Não há de se falar numa alegria falsa, daquela que se exibe sorridente nas ruas e se derrama em lágrimas no travesseiro.  Assim, se a tristeza vem, deixo-a vir. Mas, vivendo esse hábito de prestar atenção em cada pequeno detalhe da existência, a amargura não costuma encontrar lugar. Não encontrando o cenário perfeito para se instalar, a Tristeza, essa senhora indiscreta e bisbilhoteira, não se esparrama no sofá da sala, não traz as malas e avisa que vai ficar um fim de semana e acaba ficando um mês, um ano, como um parente distante numa visita inesperada. Sim, a tristeza vem, não porque lhe é permitido vir. Essa dona é enxerida e viria de qualquer maneira. Mas não, a tristeza não vem para ficar. Ela é simples passageira e, mal esquenta lugar, logo se despede, havendo outros corações mais aflitos onde ela possa se sentir mais à vontade para se instalar.

A Felicidade sim, essa gosta do aconchego do meu coração, da cama fofa que preparei para ela, do sofá que forrei com seda, da mesa posta com comida a perfumar o salão. Ah, a minha querida Felicidade é uma moça gentil e doce, que chega de mansinho, diz que não vai se demorar . Mas, sendo tão agradável a sua presença, por insistência minha, vai ficando, vai ficando... até que entra na rotina da casa, e, como a maioria que não é chegada a mudanças, aqui permanece como se a casa fosse sua. É fácil para essa moça se acostumar com o ambiente: já encontrou a cama feita, o jardim tratado, a louça lavada, a roupa passada, não há muito com o que se preocupar. E ela vai ficando.

Se, eventualmente, a Tristeza vem arrebatadora, enciumada invadindo meu lar, derrubando porta abaixo e criando o maior reboliço, não há o que fazer contra toda essa violência. O melhor é esperar. Se os acontecimentos vêm muito dolorosos e marcantes, se o desgosto é profundo, e as soluções parecem pequenas gotículas num nebuloso temporal, deixo que essa infelicidade intensa venha e desarrume tudo, mas sem perder de vista que, nesse mundo de altos e baixos, todo turbilhão tem seu fim, tudo isso vai passar.

Aprendi que a tristeza não é um monstro do qual tenho que me proteger ou um mal do qual tenho que me afastar. Porque, humanos que somos, por mais que levantemos barreiras, estaremos sempre sujeitos ao aparecimento desse redemoinho. Entretanto, é impressionante o poder do controle emocional, quando se descobrem ferramentas próprias para se lidar com a mente. Em primeiro lugar, é importante saber que é possível adquirir certo controle sobre os nossos pensamentos e que, pensamentos geram sentimentos, bem como sentimentos geram sensações. Negar as amarguras seria viver na superficialidade. Não é essa a ideia. Assim, há um modo de vivenciar as experiências negativas que aprendi com o tempo: deixo a tristeza vir, mas a experimento como se eu fosse um vidro transparente, através do qual passam os raios, e não uma superfície espelhada ou opaca na qual os raios se refletem ou se retêm. Num estado de elaboração mental e buscando a consciência sobre meus pensamentos e sentimentos, vou deixando as sensações fluírem. Tristeza, afinal, não é um ser sólido; é tão somente um sentimento, dentre tantos outros. E, sendo apenas mais um sentimento, permito-me senti-lo, deixo-o seguir seu curso, tomo consciência de que esse sentimento tem seu ciclo: vem, atravessa-me e passa. Deixo-o seguir seu fluxo e provocar as mudanças necessárias.

A partir do momento em que não se remói a tristeza, mas deixa-se apenas que ela flua e siga seu curso, em poucos dias a tristeza parte e me deixa só. É o momento de me encontrar comigo mesma e descobrir que transformações ela provocou em mim. Estou renovada. É hora de tomar um banho mais lento, sentindo com intensidade a água morna se derramando sobre mim. É hora de saborear um brigadeiro como se fosse o último. Ou de caminhar na praia como se nunca antes tivesse visto aquela paisagem. É hora do deslumbramento. É o momento de acordar para a “eterna novidade do mundo”, como no poema de Alberto Caeiro. O mundo parece, então, que adquiriu nova cor, já que durante a reclusão e a tristeza tudo variava em tons lilases.

Há quem diga que ninguém é feliz ou infeliz. Mas a felicidade pode ser um aprendizado. Para quem sabe ser feliz, cada novo despertar é uma alegria por si só. Não estar se sentindo triste também já é uma alegria. Já notou? Assim, é fácil entusiasmar-se com um “simples” botão de flor, um “simples” café da manhã, um “simples” edredom, um “simples” filme no cinema, uma “simples” peça de teatro, um “simples” livro, uma “simples” visita, um “simples” romance, um “simples” papo de amigo, um “simples” carinho, um “simples” trabalho, um “simples” convite, uma “simples” viagem, um “simples” show. Se você parar para reparar no detalhe, nada é assim tão simples. É tudo muito, muito complexo.

A banalidade está no olhar de quem olha para o espetáculo da vida com indiferença ou soberba. O extraordinário está nos olhos de quem se permite ver. Se você não tem reparado bem, experimente olhar para pequenos milagres com lente de aumento. Um mosquito pode parecer um monstro intergaláctico. O desabrochar de uma flor pode parecer o início de uma nova geração. E, lembre-se, você tem o poder de escolha: se uma abelhinha qualquer aparecer diante do seu rosto, você pode simplesmente afugentá-la ou, quem sabe, arriscar-se a segui-la e descobrir onde está o mel.

Autora: Gizele Toledo de Oliveira (texto registrado/direitos autorais reservados).