terça-feira, 23 de julho de 2013

O ipê e a casa



           Às vezes eu passava por uma rua onde havia uma casa bucólica com uma bela árvore na frente, que me chamava atenção pela delicadeza de suas flores cor-de-rosa. Eu chegava a respirar fundo e podia jurar sentir o aroma daquelas pétalas e experimentar a energia daquela relação entre a árvore e a casa.

           O texto abaixo escrevi quando um dia passei pelo local e, surpresa, vi que a casa havia sido demolida, para a construção de mais um prédio de muitos andares, como tem sido comum nas redondezas, pelo avançar da especulação imobiliária.

            Fiquei, em parte, feliz, ao constatar que, por algum motivo, decidiram deixar a árvore de pé. Fiquei feliz e melancólica ao mesmo tempo, pois, embora ela tivesse sido preservada, pude imaginar a tristeza daquela árvore ao testemunhar a destruição de sua companheira de longa data. Aquela velha companheira, de ar ingênuo, ficou no passado. Restou a pobrezinha ali, sozinha, no terreno vazio, já fechado por tapumes da futura obra. Percebi-a tão desolada. Será que o novo prédio lhe traria algum conforto? Então, escrevi:

            E o ipê ficou lá, guardando as memórias da casa que o namorava... Só espero que conservem de pé este lindo ipê que parece defender, solitário, o nome do bairro "Jardim Icaraí".  No inverno, suas flores ainda resistem. Na primavera, ele é um luxo, uma explosão de flores! Ou era... Não sei como vai ser agora, que sua amada, a casa, se foi. E não se pode afirmar que tenha partido desta para melhor... Se alguém souber para aonde vão as almas das casas quando morrem, favor informar. Que Deus a tenha!

Autora: Gizele Toledo de Oliveira (texto registrado/direitos autorais reservados).